domingo, 29 de maio de 2011

Saúde Mental

“Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei.
Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia.Eu me explico.Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maiakovski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh matou-se.Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakoviski suicidou-se.

Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos.Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as idéias comportam-se bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado; nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme) ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou.

Pensar é uma coisa muito perigosa… Não, saúde mental elas não tinham… Eram lúcidas demais para isso.Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata.Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental.Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa. Por outro lado, nunca ouvir falar de político que tivesse depressão. Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.

Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos.Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, literalmente “equipamento duro”, e a outra denomina-se software, “equipamento macio”. Hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. O software é constituído por entidades “espirituais” – símbolos que formam os programas e são gravados nos disquetes. Nós também temos um hardware e um software.

O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo “espirituais”, sendo que o programa mais importante é a linguagem.

Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software.Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam.

Não se conserta um programa com chave de fenda.Porque o software é feito de símbolos e, somente símbolos, podem entrar dentro dele.Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos de Drummond e o corpo fica excitado. Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e os acessórios, o hardware, tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta e se arrebenta de emoção!

Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio:
A música que saia de seu software era tão bonita que seu hardware não suportou… Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca, “saúde mental” até o fim dos seus dias.
Opte por um software modesto. Evite as coisas belas e comoventes.

A beleza é perigosa para o hardware. Cuidado com a música… Brahms, Mahler, Wagner, Bach são especialmente contra-indicados. Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Tranquilize-se há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago?

Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. E, aos domingos, não se esqueça do Silvio Santos e do Gugu Liberato.
Seguindo essa receita você terá uma vida tranqüila, embora banal.

Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, em vez de ter o fim que tiveram as pessoas que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram…”


Rubens Alves, trecho de “Sobre o tempo e a eternidade” - Campinas: Ed. Papirus, 1996.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Análise foi feita para fazer dormir ou para acordar?

Freud descobriu o fenômeno da transferência, reconheceu os sentimentos surgidos do terapeuta em relação ao paciente e deu-lhes o nome de contratransferência. Estes mecanismos são muito importantes e fundamentais para um tratamento bem sucedido.
Há, porém, grande diferença entre o que Freud percebia como contratransferência e o que atualmente se leva em conta: para Freud, o terapeuta deveria eminir-se de revelar o que quer que fosse sobre sua contratransferência. Ele devia funcionar como uma tela em branco ou como um espelho, sobre o qual o paciente projeta suas fantasias. Ou seja, Freud afirmava que o terapeuta, idealmente,  deve ser inteiramente anônimo e neutro em seu relacionamento com o paciente e não lhe fornecer nenhuma informação, direta ou indiretamente, sobre si mesmo. O motivo: Quanto menos o paciente conhecer os fatos reais, mais projetará o que há dentro de si sobre a figura inapreensível do terapeuta. Essa projeção é muito importante, porque é através dela, na verdade, que se realizará o tratamento. Por meio dela, terapeuta e paciente compreenderão quais as sombras no passado do paciente que o perseguem inconscientemente até hoje, e daí se abrirá a brecha para superá-las.
Esse ideal Freudiano do terapeuta como tela em branco foi entendido de maneira distorcida ao longo do tempo, e tornou-se um enorme problema na história da Psicanálise.
Preferencialmente não se deve estender a mão ao paciente, o menor contato físico pode ser desencadeador de fantasias ancestrais perigosíssimas ao tratamento. Por razão semelhante, nada de fotografias na sua sala. Imagine um psicanalista que mostrasse sua família ou seus amigos, quão perturbador poderia ser? Melhor mesmo é que nem livros tivesse, para não revelar seu gosto literário. Vestir-se deveria ser sempre o mais discreto possível, sempre de cores pálidas. Não atender pessoas da mesma família, para que a transferência não se misturasse nas intricadas redes afetivo-familares.
Aliás, era melhor também não atender ninguém que morasse nas cercanias do consultório ou da casa do analista, pois já imaginou como seria horroroso, um paciente ver seu analista em uma manhã de domingo comprando um jornal na banca da esquina?
É fácil perceber que tudo está ali pensado para não "perturbar" o paciente. Ora, ora, uma análise foi feita para fazer dormir ou para acordar?
Percebemos que há outa Psicanálise possível, diferente daquela cheia de rituais de isolamentos obssessivos, até porque o ideal da tela em branco é simplesmente impossível de ser colocado totalmente em prática.
Quando o terapeuta apresenta ao paciente uma fachada gentil, mas distante e vazia de emoções (como fazem alguns terapeutas iniciantes, ainda inseguros quanto ao seu estilo pessoal), não é a imagem de uma figura neutra e anônima que ele está apresentando, mas a de uma pessoa bastante definida: fria e ardilosa.
Como toda ação corresponde a uma reação, o paciente reagirá de modo negativo, conscientemente ou não, a essa imagem do terapeuta frio e distante.
É importante observar essa relação que se desenvolve entre terapeuta-paciente como algo que tece dinamicamente entre duas pessoas, em que transferência e contratransferência se interpenetram a ponto de ser difícil isolá-las.
E essa é uma condição para que um tratamento seja bem sucedido: que as duas pessoas que se associam para realizá-lo sejam verdadeiras.

Que viva a Psicanálise, além de qualquer standard!

Fonte: O inimigo no meu quarto - Yoram Yovell
Jorge Forbes - Revista Psique, edição de abril 2011.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Desapego - O caminho para a transformação

O maior exemplo de desapego vem das abelhas. Após construírem a colméia, abandonam-na. E não a deixam morta, em ruínas, mas viva e repleta de alimento. Todo mel que fabricaram além do que necessitavam é deixado sem preocupação com o destino que terá. Batem asas para a próxima morada sem olhar para trás.
Na vida das Abelhas temos uma grande lição. Em geral, o homem constrói para si, pensa no valor da propriedade, tem ambição de conseguir mais bens, sofre e briga quando na iminência de perder o que "lutou" para adquirir."
Onde estiver nosso coração, ali estarão nossos tesouros..." Assim, não pode haver paz uma vez que pensamentos e sentimentos formem uma tela prendendo o ser ao que ele julga sua propriedade. Essa teia não o deixa alçar voo para novas moradas. E tal impedimento ocorre em vida ou mesmo após a morte, quando um simples pensamento como "Para quem vai ficar a minha casa?" é capaz de retê-lo em uma etapa que já podia estar superada. Ele fica aprisionado a um plano denso, perde oportunidades de experiências superiores.
Para o homem, tirar a vida de animais e usá-los como alimento é normal. Derrubar árvores para fazer conservas de seu miolo, também. Costuma comprar o que está pronto e adquirir mais do que necessita. Mas as abelhas fabricam o próprio alimento sem nada destruir e, ainda, doam a maior parte dele.
A lição das abelhas vem do seu espírito de doação. Num ato incomum de desapego, abandonam tudo o que levaram a vida para construir. Simplesmente o soltam, sem preocupação se vai para um ou para outro. Deixam o melhor que têm, seja para quem for - o que é muito diferente de doar o que não tem valor ou de dirigir a doação para alguém da nossa preferência.
Se queremos ser livres, se queremos parar de sofrer pelo que temos e pelo que não temos, devemos abrigar em nós um único desejo: o de nos transformar. O exercício é ter sempre em mente que nada nem ninguém nos pertence, que não viemos ao mundo para possuir coisas ou pessoas, e que devemos soltá-las. Assim, quando alguém ou algo tem de sair de nossa vida, não alimentamos a ilusão da perda. Adquirimos visão mais ampla.
O sofrimento vem quando nos fixamos a algo ou a alguém. O apego embaça o que deveria estar claro: por trás de uma pretensa perda está o ensinamento de que algo melhor para nosso crescimento precisa entrar.

E se não abrimos mão do velho, como pode haver espaço para o novo?

Fonte: Boletim de SINAIS - nº 6 - Figueira


sábado, 21 de maio de 2011

"Conheças todas as teorias,
domine todas as técnicas,
mas ao tocar uma alma humana,
seja apenas outra alma humana".

Carl Gustav Jung

terça-feira, 10 de maio de 2011

Doenças Psicossomáticas - As doenças da emoção

Tem sido muito comum o uso do termo “doença psicossomática”, que inclusive leva as pessoas com alguma doença física a serem encaminhadas ao atendimento psicológico.
Essas pessoas muitas vezes não tiveram sucesso nos diagnósticos e tratamentos médicos, porque a origem dos sintomas são de nível emocional, portanto estão diretamente relacionados às suas emoções e à sua afetividade.
Quando ficamos doentes, de certa maneira, tendemos a voltar à condição de crianças; numa linguagem mais técnica, regredimos; ficamos mais “dengosos”, queremos atenção, consideração, cuidados, etc. Com tudo isso, quer dizer que quando adoecemos “procuramos” nossa mãe.
Assim, quando somos crianças, somos fortes, conseguimos “seduzir adultos; temos um poder de persuasão muito maior do que quando nos tornamos adultos. Aqui, quando adultos, a doença pode, e às vezes assume as rédeas da sedução do outro. Quantas vezes, vemos pessoas doentes, que se aproveitam dessas doenças para obterem pequenos favores ou comodidades.
Quase sempre, “procuramos” as doenças das quais somos portadores. Esse procurar, no entanto, é um processo incosnciente, pois, ele se mascara, escondendo-se atrás de sintomas, emoções e sentimentos.
As relações entre nosso corpo e nossa mente não caminham separadas, como se pode imaginar. Elas estão entrelaçadas, envolvendo processos inconscientes de nosso ser. Por isso não nos damos conta de quando o problema surge, e quando percebemos já estamos com aquela dor de estômago, dor de cabeça, sem entender como tudo começou.
Um câncer, por exemplo, não se formou naquele momento, ou dias antes de ter sido detectado. Muitas vezes, ou na maioria das vezes, o seu desenvolvimento e evolução tiveram início muitos meses ou anos atrás, momento em que, “enviamos uma mensagem” para nosso Sistema Imunológico “ordenando” que algo deveria ser feito naquele sentido. Falta de carinho, distanciamento de afetos, ou quem sabe, raivas “incubadas” durante muitos anos, ocasionaram um proliferar desordenado de células ou grupos celulares.
Dessa forma o ser humano passa a ser visto e analisado de forma mais integrada, levando-se em consideração sua forma de viver no mundo.
Sendo assim, quando adoecemos, não é suficiente que somente o corpo seja cuidado com medicamentos, mas sim que possamos perceber o por que adoecemos, para que ou para quem adoecemos.
Quando nosso corpo sente algo, nem sempre conseguimos expressar esses sentimentos, expressando nossa raiva, chorando, etc. E mesmo que façamos isso, diversos sintomas podem acompanhar essas emoções como coração acelerado, sudorese, entre outros. Portanto, a cada sensação ou alteração, o corpo faz um sacrifício imenso para manter-se equilibrado, nem sempre com sucesso, o que poderá resultar em desequilíbrios passageiros ou permanentes.
Vivemos numa realidade em que o stress está cada vez mais presente em nosso dia a dia: correria de trabalho, situações de violência e pressão psicológica constante. Nesse momento é importante pararmos em meio a tudo isso para uma reflexão: como estou me relacionando com meu trabalho, com minha família, com meus amigos? Quais necessidades eu possuo e não estão sendo supridas? Estou sendo um ser humano consciente?
É importante ajudarmos nosso corpo a perceber que ele é único e não pode ser comparado, que é limitado, para que possa enxergar seu lugar em nosso mundo.
Porém, nem sempre conseguimos esta mudança de atitude a tempo, e nos deparamos com os sofrimentos que envolvem o adoecimento. E nesse momento, não é suficiente o cuidado com o corpo. Temos que ampliar a visão sobre nós mesmos, cuidando de nossa mente e de nossas emoções.
Percebendo que o nosso organismo não está separado de nossas experiências e que aquilo que vivemos - nossos pensamentos, sentimentos, necessidades e crenças- tem uma repercussão direta no funcionamento de nosso corpo.
A doença vem deflagrar algo a respeito de nós mesmos e de nossas vidas.

Algumas doenças onde o fator Psicossomático é relevante:

- Artrite;
- Câncer e doenças auto-imunes;
- Alergias;
- Asma, Rinite;
- Gastrite, Úlcera;
- Transtornos de pele;
- Impotência e outras disfunções sexuais;
- Hipertensão arterial;
- Fibromialgia.

As alternativas que comprovadamente ajudam a amenizar os sintomas da somatização, ao aliviar o sofrimento emocional:

Meditação

Acredita-se que a meditação modula a resposta do sistema nervoso ao stress. Consegue-se isso por meio do controle da ansiedade. O estudo mais recente nesse campo submeteu pacientes cardíacos à meditação e comprovou que eles tiveram uma redução da pressão arterial.

Terapias cognitivo-comportamentais

O objetivo do método é fazer o paciente aprender a controlar os sintomas. Ou seja, ensiná-lo a evitar a cadeia de reações emocionais que leva o corpo a responder com sinais físicos. Também chamado de terapia breve, é especialmente eficaz para aplacar sintomas clássicos, como taquicardia, tontura e falta de ar.

Psicanálise

Ainda que nunca tenha criado uma teoria psicossomática, Sigmund Freud, o pai da psicanálise, foi um dos seus mais importantes precursores. Ao iniciar a prática clínica, Freud percebeu que as manifestações da histeria correspondiam a uma anatomia imaginária. Ao contrário das outras duas técnicas, a psicanálise age na raiz do problema. Nesse caso, faz toda a diferença saber se os sintomas de uma somatização são fruto da história pessoal do paciente. É uma abordagem profunda e complexa, que demanda tempo e disposição para que o paciente se aventure no autoconhecimento. Os resultados desse tipo de terapia para a melhora da saúde, embora mais demorados, já foram provados cientificamente.

domingo, 8 de maio de 2011

Relacionamento Mãe e Filha - Interações Delicadas


É tão lindo ver uma menininha imitando os gestos da mãe, usando seus sapatos e desfilando pela casa...
Nesse momento refletimos: como um relacionamento que geralmente se inicia com um amor incondicional, pode se transformar futuramente num palco de conflitos e desavenças?

A relação entre mãe e filha passa por diversas transformações ao longo da trajetória de suas vidas: a relação fusional enquanto bebê, admiração e imitação enquanto criança, comparação na fase da adolescência. Tudo isto faz parte do desenvolvimento emocional natural e será decisivo para fases posteriores: a diferenciação entre a menina que se tornou mulher e a sua mãe deve ocorrer para o crescimento de ambas.
Aspectos conscientes e inconscientes interferem fortemente nestas relações. Apropriar-se de seus sentimentos e entender a sua profundidade é essencial para o convívio harmônico.

A mãe precisa ajudar sua filha a se desprender e a ir em busca de suas próprias realizações. Mães que não estão suficientemente amadurecidas e resolvidas quanto aos seus desejos e emoções podem ter dificuldade em desempenhar este papel. Pode haver então uma simbiose de papéis, em que vemos filhas buscando realizar as aspirações de suas mães sem se dar conta disto ou mãe e filha que passam a competir como mulheres - competem pela beleza, competem pela realização profissional, competem nos relacionamentos.

O que fazer para resgatar essa relação? Tanto mãe quanto filha precisam ter espaço para suas realizações individuais. Precisam permitir uma à outra um distanciamento e proximidade saudáveis. Se o atrito entre ambas impede o diálogo franco, a ajuda de um profissional (psicólogo) pode auxiliá-las a perceber onde a relação necessita de ajustes.
 
Nunca é tarde para resgatar a harmonia dessa intensa relação!
 
Feliz dia das Mães!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Limites: Problema da criança ou do adulto?


É muito comum vermos por aí pais totalmente desnorteados diante dos filhos que gritam, insultam e fazem birra para ter aquilo que querem.
Parece que esta geração de pais é muito boa para oferecer carinho, levar os filhos ao McDonald’s, pra brincar, jogar PlayStation... sabem falar com eles e demonstrar afeto. Mas sofrem algo que as gerações anteriores tinham mais claro: estabelecer limites.
Esses pais querem dar aos filhos a liberdade que não tiveram.
Inúmeras vezes ouvimos que “o Amor já é suficiente”. Mas será que o Amor é demonstrado à criança somente nos bons momentos? Absolutamente não.
O Amor é demonstrado acima de tudo com a presença. E isso não significa que aquelas crianças que passam um maior tempo com seus pais estejam recebendo mais amor.
Não é o tempo (embora isso ajude, sim) mas um outro tipo de presença, para exercer algumas funções: uma delas, definir limites.
Dar limites não é o oposto do Amor, como muitas pessoas pensam. O Amor e o limite estão de mãos dadas no processo de educar. Vou dar limites, educá-la, para que possa ser bom na escola, com seus amigos, com a família. O oposto disso é deixar que ela faça o que quiser: vou comprar o que você quiser, você pode comer o que quiser.
Esses pais muitas vezes tentam suprir sua ausência fazendo todas as vontades da criança, e têm uma dificuldade enorme em dizer não.
O "não" aparece como um apoio, ou seja, é um organizador psíquico na formação da criança.
O "não" confronta-nos com uma realidade que preferiríamos esquecer: não somos onipotentes, mas seres de carne e osso, que vivem e morrem, e há coisas que não podemos fazer. É frustrante entender isso, mas é necessário para evitar uma doença grave e fazer parte desta sociedade. É necessário passarmos pelo processo de frustração que o não nos traz. A frustração leva ao pensamento e reflexão.
O "não" também permite o "sim". Quando não está muito claro, gera uma confusão de quais coisas são permitidas e quais não, tanto na criança quanto nos pais.

O que é dar limites?

Quando falamos em dar limites, pensamos logo numas palmadas. Porém não estamos nos referindo a isso, mas sim daquele banho em determinado horário, escovar os dentes, falar sem gritar. Ou seja, demonstrar que existe o amor, e justamente por isso estes limites estão sendo impostos.
A não colocação de limites é uma coisa grave e pode trazer várias consequências.
Sendo assim, os pais precisam dar o exemplo aos filhos. Não adianta pedir aos eu filhos que ele seja educado e não brigar na escola, se ele próprio não faz isso.
Nesse ponto nos deparamos com a seguinte questão: como os pais irão dar limite aos filhos, se eles mesmos não têm?
E são os pais que as crianças verão como os primeiros exemplos a serem seguidos, os primeiros modelos de identificação.
Se os pais não tem regras, será muito mais difícil passar esta identificação positiva aos filhos.

Conclusão:

O maior desafio dos pais é trabalharem oito horas por dia, e após o dia cansativo, evitar a doce tentação de "dar a criança o que ela quiser". Esta situação é agravada em casos de famílias mono- parentais, onde a mãe geralmente está ao cuidado das crianças. Ela deve trabalhar e depois voltar para casa, cansada, e deve cumprir o papel limitador que, historicamente, seria do homem.
Em todos os casos é preciso lembrar que, embora a definição de limites seja uma tarefa não tão agradável quanto a de fazer carinhos nos seus filhos ou se divertir com eles, é muito importante e insubstituível na educação de cada criança. Sua ausência pode ter conseqüências irreversíveis para a vida dos nossos filhos.

Aline Pepato